segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Five years in memoriam

Dia triste. Era para ser... mas me contive. Consegui me distrair, tentar não lembrar, enfim, passar batido. Mas não deu. Vou ter que comentar. Desabafar antes que eu estoure. Não sei se é coisa minha, ou se outras são assim tb como eu, mas creio que existe um clamor no mais íntimo de cada mulher. Uma história triste a ser contada, uma frustração para desabafar e um passado que deveria ser apagado. Hoje, falarei sobre a história triste a ser contada.
Meu coração arde e grita. Posso sentir as "mãos" do meu cuori levantadas e abanando, pedindo socorro e água. Socorro, pq muitas vezes se sente só e incapaz e, água, pq precisa se hidratar. As lágrigas acabaram com o estoque reserva. Mas ele é forte e ainda sobrevive...
Há cinco anos meu pai faleceu. Lembro-me como se fosse ontem. Aliás, minha memória de elefante funciona tão bem, que parece que isso foi há instantes. E foi. Mas se passaram cinco anos.
Ricardo Anache, caçula dentre os oitos filhos de Afife e Risckala Anache, viveu em Campo Grande/MS durante quase toda sua vida. Curta. Apenas 55 anos. Pelo que me contam, sempre se destacou em tudo que fez, e tudo que fazia colocava sua emoção junto. Isto pode ser constatado em todos os seus feitos. Nunca nada foi fácil; deficiente visual desde 6 anos de idade, perdeu o pai aos 13, e foi morar no Rio de Janeiro aos 17. Passou por inúmeras esfinges lá. Mas lutou, persistiu, venceu e superou toda dificuldade que lhe deteve. Inclusive durante a faculdade, quando ficou por duas vezes de DP na matéria Cálculo Estrutural. Mas formou-se com glória e louvor em Engenharia Civil pela PUC, e logo em seguida já era professor da referida matéria pela UFMS e CESUP. Foi eng. da prefeitura de CG junto com Levi Dias. Construtor de pontes - a que mais me orgulha é a do viaduto da Rua Salgado Filho com a Av. Ernesto Geisel. Aliás, em tudo me orgulhava dele. Durante o tempo em que tive o privilégio de tê-lo como meu pai, ele nunca me desapontou. Exemplar em tudo. Principalmente na escolha do time que torcia: Palestra Itália (viva o Verdão!). No casamento, na criação dos filhos, no trato com família e familiares. Amizades sólidas, reinam em boa lembrança dos que aqui estão até a presente data. Assim como suas construções, seus atos eram concretos e com fundamento. Sistemático, emocional e determinado (isso tenho certeza que herdei dele). Enfim, tantas coisas... me vem à lembrança inúmeras delas, mas agora ficou dificil de teclar pq não estou conseguindo enxergar direito o teclado do note. Lágrimas têm poder de enferrujar? Tomara que não... Pausa. Pronto. Então... ele era meu amigo. O melhor de deles. Pai e amigo e parceiro, sabe? Conversava demais sobre tudo e todos. Me lembro que quando íamos à praia e andávamos na orla, ficávamos conversando... e conversando... e imaginando o que as pessoas à nossa frente faziam ou como eram... era engraçado. Saudade. Ele andava de bike comigo! Dançava comigo, no ritmo e sintonia da música e da vida. Pausa. Sinto tanta falta disso... Um homem tão sábio e íntegro... que infelizmente não pôde estar presente no dia da minha formatura. Uma pena (para quem não sabe, formei-me em Direito por obediência à ele; valeu a pena. Aliás, ele me ensinou que tudo vale a pena quando a alma não é pequena). Ele me aconselhava em tudo, exortava tb, mas de forma branda, sabe? Caramba, não consigo 'pescar' um desapontamento sequer! Lutou para conquistar seus méritos. Deu a vida à família que se orgulhava. Deu o sangue na luta contra a doença que o fragilizou. Pausa. Ele me incentivou ao esporte (natação, handball e bike). Ele fazia questão de me acompanhar nas minhas sessões de psicoterapia (foram 3 anos). Ele fazia questão de me acompanhar no meu otorrino. Ele fazia questão de me acompanhar sempre que tinha a oportunidade. Enfim, ele fazia questão de me ver feliz e realizada. Eu me lembro desde quando eu era pequenininha, emburradinha... ele falava: vc tem que sorrir mais, minha filha. Pura verdade. Ele estava sempre sorrrindo. Me lembro de quando ele estava acamado no hospital, um dia antes de ser sedado... eu acabara de tirar o aparelho fixo dos dentes e fui logo mostrar a ele. Ele sorriu e perguntou: está feliz? E sorriu. E depois não acordou mais... Ah judiação... Ele passava por momentos ingloriosos, mas estava lá, sempre firme e forte e confiante. Até o seu último momento. Caramba! Ele não reclamava nem da dor! Ele fechava os olhos e gemia e só. Ele falava que de nada adianta reclamar. Outra verdade. Pausa. Homem benevolente, conheceu verdadeiramente ao Deus altíssemo, e disso eu invejava. Tenho certeza que a sua fé o salvou. Por isso me alegro... ao mesmo passo que lembro-me do seu entusiasmo, cativante e comovente. Ai meu coração, caramba! Não estou conseguindo muito me expressar... será que alguém entende? Um designio tão tão inexplicável com palavras, já que estas são escassas e insuficientemente capazes de descrever esse tipo de coisa... mesmo porque uma pessoa não pode compreender o que se passa no coração da outra. O coração é um lugar desconhecido. Pausa. Mas feliz eu fico com a recordaçao que tenho. Tive um pai explêndido, que no pouco tempo que foi meu, conseguiu me ensinar o que poucos pais repassam aos seus filhos em uma vida inteira. Mas faz parte, tenho que me conformar. Mesmo porque tudo passa, seja bom ou ruim. A única coisa que permanece é o caráter, a reputação, a índole, o vigor com que viveu e venceu com força. E ele foi vitorioso. Conseguiu o testemunho que queria. Rompendo em fé.

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